.

Minha foto
Taquari/RS; Canoas/RS; Esteio/RS; Sapucaia do Sul/RS, Rio Grande do Sul, Brazil
Autônomo do ramo da prevenção contra incêndio; Formando em Ciências Jurídicas e Sociais - Direito.

sábado, 11 de julho de 2015

Entre o céu e o chão


Eram quatro e meia da madrugada. Tudo sozinho... e uma nevoazinha um pouco mais acima do campo. Saí da estrada. Entrei de carro no campo por debaixo da névoa. Desci do carro e caminhei até o barranco. Vi que tinha um pedaço de chão remexido. Chegou uma viatura de polícia e um único policial, que desceu do carro e parou ao meu lado, olhando aquele chão remexido. Dalí a pouco já começava clarear o dia. Foram chegando outras pessoas que foram rodeando aquele chão mexido, em meia lua, contra o barranco. O campo continuava lindo, mas sobre o terreno remexido, diversos pedacinhos de coisas que eu uso no meu dia-a-dia. Alguém começou a cavar. O cadáver estava amarelo, muito amarelo. Faltava um dente, a boca estava aberta e a cara era troço muito bagunçado, sob cabelos louros, cacheados em cachos grandes. Umas mulheres olhavam à exumação com a mão no queixo e choravam, sentidamente.

O policial me mandou embora, dizendo que eu não tinha nada a ver com aquilo. Entendeu que foi uma coincidência eu querer caminhar naquele campo, de madrugada, enquanto ele procurava um cadáver. Mas eu não entendia por que as minhas coisas estavam sobre aquela sepultura, nem por que eu havia sentido vontade de estar ali.

Uns quinze anos antes, eu recebi amigos para um jantar, mas os cadáveres do quintal começavam a ser descobertos pelo vento. Era terra arenosa, preta, muito fininha. Chamei um amigo para me ajudar a raspar todos aqueles ossos e colocar fora. Naquela outra vez eu sabia que os cadáveres eram meus, só não lembrava mais de quem foram antes.  Eu e meu amigo sacáramos aquilo tudo dali e jogamos no mato, pela estrada. Eu deixara as pessoas jantando lá em casa. Nem lembro mais se quando eu retornara ainda estavam lá. Sei que nesse novo evento, eu não entendia mais nada...

2015 – 07 – 12